Quando mais nada tinha a perder, ganhou de Destino - um estranho que ela sempre via rondando sua casa - uma pequena e delicada caixinha. Destino não a deu maiores informações, só disse que aquela caixinha havia sido feita especialmente à menina. De início, ficou olhando a caixinha durante horas, admirando sua incomparável beleza, tentando entender pra quê servia, e porque Destino teria a entregado logo àquela menina, que havia perdido tudo. Era uma linda caixinha, e só o fato de contemplá-la, já fazia a menina feliz.
Eis que em uma manhã, pouco tempo depois, recebeu do tal do Destino, uma pequena chave, laceada com uma fita vermelha. Entendera tampouco esse presente, quanto entendera a caixinha. E o motivo que ele havia lhe dado era o mesmo. Era linda a chave, cheia de detalhes esculpidos, e muitos brilhantes. Com medo de perder tal preciosidade, decidiu que o melhor a fazer, era guardar a chave dentro da caixinha que outrora ganhara.
Para sua surpresa, ao abrir a caixinha para guardar a chave, percebera um pequeno buraco que nunca havia notado antes. "É o encaixe para a chave!" pensou prontamente. Posicionou a chave no buraquinho. "E não é que coube mesmo?" ,espantou-se a menina, "Mas para qual finalidade há de se existir uma fechadura dentro de uma caixinha destas?". Arriscou-se e rodou a chave.
Bem baixinho, de dentro da caixinha, começou a ecoar uma música indescretivelmente bela. A menina logo concluiu "É uma caixinha de música!". Nunca alguém a havia presenteado com algo tão sublime e valioso! Será que ela merecia tal prenda? Porque logo ela? O que Destino estava querendo dizer?
"Que seja, ela é minha agora, e eu nunca a abandonarei!". A menina havia se apaixonado pela caixinha e pela música por ela emitida. A melodia a fazia feliz, a fazia sentir-se viva! Era tão intensa, tão pura, tão cheia de sentimentos! A menina dava corda assim que a música acabava, tornando-se um ciclo musical sem fim. Rodopiava pela sala seguindo o ritmo, pulava, dançava, enchia a caixinha de carinhos.Prezava aquela caixinha como se fosse sua própria vida. E , de fato, ela era.
Mostrava o presente que Destino lhe trouxera para todos, mas só dava corda quando estava sozinha. Não queria compartilhar com ninguém a música pela qual era apaixonada. Estava orgulhosa de possuí-la, era seu maior bem. Não se importava mais com o que havia perdido no passado. Ela agora tinha sua caixinha, e isso bastava.
Assim se passaram maravilhosos 9 meses, em que todos os dias, a menina dava corda em sua caixinha, e vivia os seus momentos mais felizes.
Algumas foram as vezes em que esquecia a caixinha em casa sem querer, e saia. Quando fazia isto, era tomada por um desespero torturante. Ter que ficar sem ouvir sua musica era seu pior pesadelo. Voltava correndo pra casa, trancava-se em seu quarto, e dava corda na caixinha até cair no sono.
Com o tempo, a menina foi perdendo o cuidado pela caixinha. Como ela era sua companheira pra tudo, acabara acostumando-se a levá-la para todos os cantos, e ficava um tanto desatenta com os perigos que cercavam seu presente, já que nunca havia acontecido nenhum acidente de verdade, apenas levara alguns sustos. Esquecia-se nessas horas de que, a qualquer momento, a caixinha, tão delicada, poderia cair e se desfazer no chão, ou então, até ser roubada por algum invejoso. Estava tão acostumada com a música sempre ali, que concentrava-se em outras coisas menos importantes, ao invés de se preocupar com o que realmente importava.
Um dia, assim que acordou, a menina, como de rotina, foi dar corda em sua caixinha. Eis que para seu desespero, a chave havia simplesmente sumido! A menina rapidamente tratou de revistar seu quarto inteiro, revirou sua casa, refez os caminhos que havia passado nos últimos dias, conversou com todos que sabiam de sua caixinha, e nada. A chave havia desaparecido mesmo.
Passou alguns dias sem ouvir sua música, tentando se acostumar com a nova realidade. Mas não dava. Era a música que lhe dava energia, vontade de viver, a deixava encantada, apaixonada! Ela sabia que não suportaria viver sem a música que só existia dentro daquela caixinha.
Teve uma idéia. Foi atrás de Destino.
Ao chegar na casa de Destino, foi recepcionada com cortesia. Era um senhor humilde, vivia em uma casa bem simples na vizinhança, era muito quieto, mas estava sempre feliz. Seu sorriso dava um sentimento de esperança incomum, e ele tratava de distribuir sorrisos a todos. Destino pediu que a menina se sentasse e contasse porque o procurara. A menina então, aos prantos, contou sua história. Por fim, pediu a ajuda de Destino. Pediu que ele a mostrasse onde havia arranjado a chave da caixinha. Ela estava disposta a fazer de tudo para conseguir outra igual.
Destino sorriu e explicou calmamente a menina: "Esses tipos de caixinha e de chave não são fabricados em grande escala. Cada pessoa tem sua própria caixinha em conjunto com sua própria chave. São objetos únicos, insubstituíveis. O meu único trabalho é entregar-los as pessoas certas, assim que os recebo. E lamento ter que te dizer isso, mas nem eu mesmo sei de onde eles vem. Creio que terás que continuar tua busca pela chave que perdeu. Ela há de estar em algum lugar. E não se preocupe, ninguém pode possuir a chave de outra pessoa, por isso, ninguém irá te roubar a chave. Ela está exatamente onde você a deixou. Você só precisa achar o caminho de volta a esse ponto". A menina havia entendido o recado. Agradeceu a explicação de Destino, pegou suas coisas e foi em direção a porta. Antes de sair porém, Destino alertou: "E tenha mais cuidado com tua chave, menina! Cada dia que passas sem ouvir a música da tua caixinha, é um dia desperdiçado, um dia sem motivo, sem razão. Trate logo de achar onde foi que você largou essa chave, antes que seja tarde demais..."
Assim a menina começou a procurar incessantemente por sua chave. Não a achou ainda, mas não vai parar de tentar também.
Ela sabe que a caixinha ainda a pertence, mas sabe também que a decepcionou ao perder a chave com o seu encaixe perfeito. Porém de uma coisa, a menina tem certeza: Ela fará de tudo, TUDO, para achar o lugar, o momento em que perdeu essa chave, para recuperá-la, e dar corda na caixinha de novo. Promete ser mais atenta e cuidadosa, menos avoada, só para nunca mais ter que ir dormir de novo sem ouvir sua música.
O que essa menina mais quer no mundo, é ouvir a música de sua caixinha de música tocar de novo, num ciclo musical interminável, de modo tão ou mais intenso e marcante, do que tocou em sua primeira vez, no dia 15 de abril de 2009. Ela quer ouvir essa música pra sempre, até o último dia de sua vida. E é só por esse motivo, que não vai desistir de achar sua chave.
Dedico esse texto a minha caixinha de música. Eu sei que perdi a chave, mas saiba que eu não vou descansar até achá-la de novo, e voltar a ter o nosso encaixe perfeito. Eu te amo!