Uma pequena grande reflexão sobre realização de sonhos e a ingratidão.
19:09Encontro-me numa fase em minha vida que é difícil pensar em algo que esteja dando verdadeiramente errado: tenho saúde (na medida do possível, tendo em vista a vida que levo); tenho dinheiro o suficiente para levar uma vida agradável (no sentido de que a falta de dinheiro ainda não barrou minhas ambições) ; todos os trabalhos acadêmicos aos quais me dedico, me trazem o retorno que procuro (até quando não me empenho tanto quanto deveria, devo ser bem sincera); recentemente, realizei o sonho de uma vida inteira (e quantas pessoas, me diz, tem esse privilégio na vida? Acredito, humildemente, que poucas...); além de ter uma família que me apóia, pode ser considerada saudável e não tem nenhum problema absurdamente anormal...
Porque, então, eu não consigo ser verdadeiramente feliz? - me pergunto.
Porque eu sou uma ingrata. Sortuda pra caramba e, mesmo assim, ingrata. - É a única conclusão a qual chego.
Várias vezes me peguei pensando em porque não consigo, do fundo do meu coração, ser plenamente feliz. Ok, acredito que ninguém o é, já que a angústia e a falta fazem parte do que é ser humano. Mas sinto que com frequência, quem me trai, quem me faz infeliz, é minha própria mente. A força do pensamento é algo inegável, ao meu ver. Tudo está tranquilo, tudo está bem, até minha própria mente trazer a tona aquele momento, aquela lembrança, aquela sensação de que é possível ser mais feliz do que se é no presente. A pior parte de tudo é saber que, por experiência própria, realmente, é possível ser mais feliz do que se é. Eu já fui. E isso me leva a pensar no peso que temos que carregar (até o fim da vida?) por termos realizado um sonho.
Eu passei por tudo isso. Acredito que nos últimos 15 anos da minha vida, me empenhei ferrenhamente para conquistar o meu sonho. 15 anos é muito tempo. 15 anos focando em apenas um objetivo, é muito tempo. Por 15 anos, eu agi porque queria isso. E, olha só, consegui realizar.
O problema é que eu nunca tinha parado pra pensar o que acontece depois que você realiza um sonho.
Não sou uma pessoa religiosa, mas tenho meu olhar sobre a fé. Quando sinto que algo não tá bem, que preciso de um acolhimento que vá além do físico, eu busco uma ajuda espiritual, e sempre me surpreendo.
Hoje decidi abrir aleatoriamente meu "Evangelho segundo o Espiritismo" e, olha só, abri bem na página da ingratidão, mais especificamente na seguinte passagem: "De todas as provas, as mais penosas são as que afetam o coração; alguém suporta com coragem a miséria e as privações materiais, mas sucumbe ao peso dos desgostos domésticos, esmagado pela ingratidão dos seus. Oh! é uma pungente angústia essa! Mas que pode melhor, nessas circunstâncias, revelar a coragem moral que o conhecimento das causas do mal e a certeza de que, se há extrema aflição não há desesperos eternos, porque Deus não pode querer que sua criatura sofra sempre. Que mais consolador, mais encorajador que esse pensamento de que depende só de si as causas do mal? Mas, para isso, é preciso não deter o olhar sobre a Terra e não ver senão uma única existência; é preciso se elevar, planar no infinito do passado e do futuro; então, a grande justiça de Deus se revela ao vosso olhar, e esperais com paciência, porque entendeis o que vos parecia monstruosidades na Terra; as feridas que nela recebeis não vos parecem mais que arranhões."
Falando assim, até parece que tenho auto-controle sobre essas coisas. Não tenho, mas estou me esforçando na busca. E, para isso, além dessas coisas que já descrevi, me utilizo de mais um artifício: leio sempre uma pequena precezinha que me foi apresentada por alguém muito especial e que eu me apaixonei instantaneamente - a prece da serenidade.
"Senhor, dê-me serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que posso, e sabedoria para reconhecer a diferença entre elas."
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