A Ilha
22:31
Ao longe observa-se, imponente, a Ilha
Fundada em terra, pedra, verde, maciça
Assegura-se, sozinha, em meio ao Oceano
Quantas vezes essa visão já serviu para repôr as forças dos homens?
Que olhando para suas velas, fracos, já perdiam as esperanças
já se entregavam ao calor impiedoso do Sol que rachava seus corpos
que se deitavam nas beiradas prontos pra pender seus corpos pra fora
e se entregar às vontades do mar
A Ilha, imóvel, serena, concreta
Estabelecia um ponto de segurança
Pregada no impossível, dura em meio a moleza das águas
Os homens se afobavam
Remos, braços, baldes, todo material era usado para se chegar à Ilha
Toda força restante investida naquele meio caminho que os separava da Terra
que seria desfrutada a seu bel prazer para que se recompusessem
E abandonada novamente à instabilidade das águas
E à perecibilidade daquilo que é feito de vida
A Ilha fica
E observa tudo o que vai
Auto-suficiência, orgulho, imponência
A Ilha
Novamente sozinha, esperando que os intempéries do mar lhe tragam um novo sabor
Alguém num momento de horror
Que ela possa resgatar, acalentar, alimentar, restaurar
Até ser abandonada novamente
A Ilha vive pelos desesperados
Pelos despreparados, moribundos, abandonados
Por aqueles que clamam
Pelos que não conseguiriam sozinhos
A Ilha está lá, sempre
Seja para receber os pedaços de carne vazios da alma que perderam
atracados em seus arredores
Seja para oferecer a esperança de um recomeço
recebendo o suspiro intrinsecamente sincero daqueles que lhe devem a vida
Ao longe, observa-se, imponente, a Ilha
Na passibilidade frente ao acaso
Esperando seu próprio naufragar
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