Desculpe o textão, preciso falar do Duvivier que precisou falar da Clarice.
15:29
Eu demorei muito tempo pra entender o sentimento como esse retratado no texto de Duvivier. Demorei pra entender que algumas coisas não acabam quando terminam, que o amor da nossa vida não é um só, que as memórias não vão embora junto com a despedida após a decisão final - e que tudo isso não é, necessariamente, ruim.
Pra mim, nós trazemos conosco um pedaço de cada um que a gente já amou. É inevitável: se você depositou afeto, você vai ficar com uma marca. E a gente ama tanto na vida, se entrega pra tantas pessoas, que no final das contas eu me vejo como um passaporte cheio de carimbos das pessoas as quais eu visitei (e, em alguns casos, morei).
O término não tira a legitimidade de tudo que você viveu antes dele. Os planos, os carinhos, as juras de amor, as intimidades compartilhadas, as confidências, o desejo pela eternidade, o encanto, enfim, tudo foi real. Foi real no seu tempo presente, foi real enquanto você estava ali, e o outro estava ali, e aquele encontro estava sendo compartilhado por vocês dois. Aconteceu, e vai ficar sempre fixado naquele momento, no meio da linha extensa do espaço-tempo.
O problema é que nós não nos fixamos. Os momentos ficam, mas nós mudamos. Aparecem outros interesses, outros desejos, outros sonhos, outras intenções, outros Outros. Nós continuamos percorrendo nossos caminhos, e às vezes acontece deles divergirem do caminho de quem andava do nosso lado. E então chega a hora de soltarmos as mãos, e cada um seguir o seu.
Muitos estão acostumados a terminar e achar que o caminho natural das coisas é sentir ódio, raiva, rancor, é querer enterrar tudo o que foi vivido, apagar da memória as lembranças, como se só assim fosse possível seguir em frente. Hoje, eu prefiro tentar entender o porquê que eu tive que passar por tudo aquilo, quem foi aquela pessoa na minha vida, qual o objetivo dela ali, naquela hora, naquele lugar, naquele momento. Como já dizia Leminski: "Ninguém nunca chegou atrasado", todos os acontecimentos são pontuais. É um processo extremamente dolorido e introspectivo entender os porquês dos encontros mas, pra mim, é essencialmente necessário para eu conseguir seguir. Feito isso, eu guardo pra mim as lições e as memórias, e deixo o que não me serve mais, partir.
Repito: deixo partir, não expulso ninguém. Até porque eu sei que eles nunca vão embora mesmo. De alguma maneira, essas pessoas sempre ficarão. Melhor ainda se deixarem de presente um bom aprendizado ou uma lição. A gente não muda história que já foi escrita. Quando eu penso nos meus ex's, eu vejo claramente o capitulo que cabe a cada um. Inclusive, vejo a importância de ter escrito cada um deles na minha história para hoje, relendo tudo, conseguir ter a certeza e clareza de que minha escrita se aprimorou absurdamente, e agora estou compondo o capítulo mais lindo até aqui.
Pra mim, o Duvivier só deixou de lado a hipocrisia que a gente insiste em sustentar quando se trata de fim de relacionamento. O amor pela Clarice se eternizou nos momentos que ele descreve no texto, e é isso, "nada falta", eles continuarão ali a vida inteira. Não entendi como um texto triste, mas um texto de agradecimento e de nostalgia, de cumplicidade com o que foi dividido entre os dois. Nós sempre sentimos falta dos momentos bons que passamos com família, amigos e etc, por que querer enterrar o que vivemos com os ex's? No mais, é aceitar que aquilo foi significante naquele dado momento, contexto, tempo e pronto, vida que segue, até mesmo para aproveitarmos tudo o que foi aprendido e criarmos melhores memórias ainda com quem há de vir.
Penso que tudo o que eu passei foi essencial para que eu chegasse até aqui, e encontrasse o cara que faz com que todas as lições que eu aprendi fizessem sentido. Se hoje eu tenho muito mais certeza do que eu quero, eu devo isso a tudo que eu aprendi a dispensar.
Dito isso, deixo aqui meu sincero agradecimento a todos os (ex's) envolvidos, e ao Duvivier, por mostrar que o amor não morre mesmo quando chega ao fim.
"Thanks for the memories, even though they weren't so great" *risos*
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