Carta aberta à menina do espelho.
23:18Consigo enxergar, no fundo dos teus olhos marrons-cor-de-areia, como cada fissura da tua retina se sente contente de ter registrado todas as paisagens por onde passou. O contágio da alegria de ser aquilo que um dia sonhou, pode ser o cume da vida de alguns, mas para ti, foi rotina. Arrepia-me ver tuas novas rugas, causadas por expressões de êxtase, dor e espanto, porque sei que estão encrustados aí, momentos de nirvana e desalento, dobras recheadas de triunfos e derrotas. E como se evolui no tempo, senão por esse contínuo movimento de apego-desapego?
Te digo, menina: as marcas dos teus pés não ficarão no solo pra sempre, nem os batimentos apressados do teu coração serão recuperados. Mas o fôlego que ainda te falta ao lembrar de certos instantes, é o bem mais precioso que eu desejaria que você tivesse. E tu tens um baú cheio deles.
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