Para você que não é.

18:12

Eu não sei delimitar até que ponto me sufoca tua resistência
Tua ausência preenchendo os espaços em branco da minha agenda me causam um estranhamento difícil de adjetivar
Sinto falta dos beijos com gosto de café, dos olhares tímidos que expressavam desejos intensos
Seu sumiço anda me enchendo de uma presença que eu não queria sentir

Te espero na esquina de casa, prestando atenção na placa de todos os carros que passam
Nem lembro mais da cor, mas a textura do assento de couro banhado em suor é recorrente em minha mente
Sinto os toques que perdi, e os beijos que recusei por medo da entrega
Sinto-os. Como se estivessem acontecendo agora.

Entre esses pensamentos, troco de aba como se fosse o método perfeito de fuga
Abro a janela, pisco uma foto
Busco em meus documentos algo que me faça pensar que algumas coisas nessa vida são mais importantes que um prazer verdadeiro e fugaz
Mas meu coração ancorado no precipício que é gostar de você me puxa com toda força e peso do aço de volta aos seus braços
E então, me descubro fraca. Pássaro caído do ninho.

Eu não queria te ter tão presente, ainda mais depois de tanto tempo
É como uma corrente que eu ouço, arrastando-se pelo asfalto, presa ao meu pé
Não queria olhar pra essas fotos em pedaços, e ainda sentir meu estômago revirar
Não queria te desejar intrinsecamente - de intensidade, de suspiros, de olhares e beijos-sorrisos

Mas ao mesmo tempo, é esse teu sumiço que me faz companhia
Que senta comigo na mesinha do bistrô, e ri
Que me rouba beijos salgados nas cenas entediantes no cinema
Que se deita por cima do lençol estendido na grama, e segura minha mão
Que me olha fixamente, quando nossos corpos estão deliciosamente encaixados
Que segura o volante confiantemente e me sequestra daqui

Eu sinto falta das coisas que eu nem vivi contigo
E esse ciclo eterno de angústias, poesias e saudades
É o que me faz seguir...

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