Quando nada sabia de nada
tudo sabia de tudo
tudo sabia do pouco que conhecia
já que aquele pouco, para ela, era muito
Enxergar além do que via
do que experimentava
do que conhecia
era algo que, naquela época, não lhe cabia
Até que se fez necessário pôr o pé para fora da cama
Se fez necessário abrir a porta para socorrer aquele que chama
Se fez preciso tirar os óculos escuros e encarar o Sol
Se fez preciso tirar as boias e aprender a nadar
Jogar-se no mundo, acatar a dúvida
Brincar com a dúvida
Tentar a dúvida e ser tentada
Perder a paz para ganhar conhecimento
Se antes era contente com seu tudo
Agora descobrira que o tudo, era nada
E que esse nada, nada sustenta, nada prediz
O nada, nada sacia
Questionava, discutia
Apontava, perseguia
Indagava, respondia
Tudo para tentar ser maior
Mas que doloroso era o caminho!
Quanto abandono, quanto soco na cara
Deferidos pela realidade, impiedosa
Que sempre esteve ali, mansa, diante de seu conformismo
Abandonar a ignorância era se deixar pra trás
Se desprender de alguém que sempre foi quem ela chamava de eu
Se desconectar de algo que agora se perdeu
Diante da "limpeza das janelas da percepção"
Não queria voltar
Estava sozinha mas, ainda assim, queria ir adiante
Prosseguir por esse caminho, alcançar seu objetivo
Mosca que sempre voou entorno da luz, descobrindo o Sol
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Se a ignorância era uma benção, ela escolhera ser amaldiçoada.