Ignorance is bliss.

02:18

Quando nada sabia de nada

tudo sabia de tudo
tudo sabia do pouco que conhecia
já que aquele pouco, para ela, era muito

Enxergar além do que via
do que experimentava
do que conhecia
era algo que, naquela época, não lhe cabia

Até que se fez necessário pôr o pé para fora da cama
Se fez necessário abrir a porta para socorrer aquele que chama
Se fez preciso tirar os óculos escuros e encarar o Sol
Se fez preciso tirar as boias e aprender a nadar

Jogar-se no mundo, acatar a dúvida
Brincar com a dúvida
Tentar a dúvida e ser tentada
Perder a paz para ganhar conhecimento

Se antes era contente com seu tudo
Agora descobrira que o tudo, era nada
E que esse nada, nada sustenta, nada prediz
O nada, nada sacia

Questionava, discutia
Apontava, perseguia
Indagava, respondia
Tudo para tentar ser maior

Mas que doloroso era o caminho!
Quanto abandono, quanto soco na cara
Deferidos pela realidade, impiedosa
Que sempre esteve ali, mansa, diante de seu conformismo

Abandonar a ignorância era se deixar pra trás
Se desprender de alguém que sempre foi quem ela chamava de eu
Se desconectar de algo que agora se perdeu
Diante da "limpeza das janelas da percepção"

Não queria voltar
Estava sozinha mas, ainda assim, queria ir adiante
Prosseguir por esse caminho, alcançar seu objetivo
Mosca que sempre voou entorno da luz, descobrindo o Sol

-

Se a ignorância era uma benção, ela escolhera ser amaldiçoada.

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