Há preguiça.
Quando não se sai de uma situação frustante por comodismo. Quando se atém a uma pessoa por convenções. Quando não nos dedicamos na realização de nossos desejos. Quando damos respostas automáticas, sorridos forçados, cumprimentos falsos. Quando enrolamos na cama olhando para o relógio.
Há preguiça.
Quando damos desculpas. Quando nos justificamos por fatores externos ao nosso controle. Quando silenciamos o que urge no interior. Quando ignoramos o que nos põe em chama pela segurança do clima fresco. Quando ficamos por aqui mesmo. Quando usamos reticências.
Há preguiça.
Ao responder uma mensagem, uma ligação, um aceno. Ao levantar da cama. Ao se deslocar para onde não queremos, fazer o que não nos motiva, por razões que não nos representam. Ao nos negarmos à entrega por tudo que ela nos acarreta posteriormente. Ao pedirmos respostas. Ao nos conformarmos com o que temos. Ao ficarmos aqui.
Há preguiça.
De terminar esse texto. De pensar no que comer. De querer entender o que se passa na cabeça dos outros. De buscar por sinais. De compreender a esperança. De aceitar a esperança. De procurar respostas teóricas para questionamentos que demandam ações. De sermos nós mesmos. De sentirmos preguiça.
Há preguiça de esperar o encontro com outra música, outro lugar, outra pessoa, outra lei, outra viagem, outro filme, outro sonho, outra peça, outro texto, outro afeto que nos faça ter força suficiente para romper com essa crosta entediante que nos envolve e mudar alguma coisa.
Há preguiça de refletir se é isso mesmo que precisamos, ou sobre o quê precisamos, ou se é que realmente precisamos de alguma coisa.
Há preguiça de reler esse texto.
Há preguiça de acreditar em tudo que escrevi.
A preguiça está em mim.
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"I've survived, I speak, I breathe, I'm incomplete, I'm alive
Hurray!
You're wrong again, 'cause I feel no love
Does anyone ever get this right?"